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e acordo com último censo, 24% da população brasileira têm alguma deficiência, o que corresponde a aproximadamente 48 milhões de pessoas. Destes, 77% possuem deficiência visual, 29% deficiência motora, 21% deficiência auditiva, e 6% deficiência intelectual. É importante ressaltar que grande parte desse número de portadores de deficiência não possui acesso à educação.

 

Na região do Cariri, no Ceará, universidades públicas estão passando por mudanças na sua estrutura física para acolher pessoas com deficiência. Tudo isso é resultado de uma política de inclusão que tem ganhado espaço nos debates no que diz respeito a educação como direito de todos, promovidos pelas próprias instituições de ensino.

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De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, “é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação”.

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Além de fazer adaptações físicas no espaço - como construir rampas e disponibilizar elevadores -, é necessário que as instituições de ensino detenham equipe qualificada e adaptem os recursos às diferentes necessidades. Isso inclui atitudes como disponibilizar áudio-descrição e adotar o sistema Braille, entre outros.

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Para que essas pessoas tenham acesso à educação, algumas dificuldades começam ao buscar instituições adequadas. Porém, muitas vêm adotando estratégias para se tornarem mais inclusivas. Segundo dados do último censo escolar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), três em cada quatro escolas do país não têm itens básicos de acessibilidade, como rampas, corrimãos, sinalização, e menos de um terço possui sanitários adaptados para deficientes. Para Cíntia Aparecida Inácio dos Santos, professora do Centro Educacional Saber com Alegria (CESA), em Crato(CE), é notório na instituição a ausência de rampas e as portas são estreitas, o que impossibilita a acessibilidade de alunos com deficiência. 

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No ensino superior, é possível perceber algumas diferenças no que se refere a estrutura física das instituições se comparadas à realidade das escolas de ensino básico. Uma das questões pertinentes consiste nas temáticas inclusivas para a pessoa com deficiência, destinadas tanto aos universitários quanto a todo o corpo da instituição.

Introducao

D

                  Jardim sensorial:

     sensibilidade à flor da pele

Jardim sensorial

 

 Adaptado para integrar especialmente as pessoas com deficiência visual, o Jardim Sensorial está aberto para visitação constante no Centro de Ciências Agrárias e da Biodiversidade (CCAB) da Universidade Federal do Cariri (UFCA), ocupando um espaço que não tinha uso anteriormente. Os visitantes podem explorar os sentidos durante a visita e se colocar no lugar de um deficiente visual, usando vendas nos olhos ao circular pelo jardim.

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O Jardim Sensorial é uma ação desenvolvida pelo curso de Agronomia através do projeto sementes do amanhã e visa a recomposição de paisagens ociosas, além de beneficiar os usuários do espaço criando um ambiente de visitação constante. Semanalmente, geralmente às quartas-feiras, escolas públicas e privadas podem agendar visita ao local.O Jardim também propõe a sensibilização dos estudantes e da comunidade local com relação ao meio ambiente, capaz de favorecer e melhorar a qualidade de vida principalmente de pessoas com necessidades especiais.

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A professora e coordenadora do projeto, Cláudia Marco relata que a iniciativa conta com parcerias, como por exemplo, uma marca que fornece o lanche para as crianças que visitam o local. “Eu percebo que essa experiência é transformadora, e  essa transformação ocorre de forma dialógica por que a gente percebe e ouve comentários do centro acadêmico: de funcionários, de alunos. Para as crianças, a gente percebe que é um espaço que permite que eles possam vivenciar aquilo que é discutido em sala de aula. Elas vêm com  muitas informações, debate sobre questões ambientais, sobre a importância de incluir o outro. E aqui nós fazemos o complemento dessa discussão”.

   

Com relação aos deficientes visuais, Fagner Soares, estudante que integra o projeto, afirma que uma instituição de cegos já visitou o local. A professora Claudia complementa que eles encontram um espaço a mais para que possam falar sobre sua realidade e os desafios que enfrentam. “É muito bonito quando o pai, a mãe ou até mesmo a escola traz o cego e se preocupa em mostrar o espaço dedicado a eles, é algo enriquecedor pra gente”, afirma. Ela relata que observa a  necessidade de ter mais espaços acessíveis como o Jardim Sensorial aqui na região do Cariri e ressalta a importância de iniciativas voltadas para aqueles que, muitas vezes, ficam excluídos na sociedade por falta de debate ou discussão sobre os desafios diários que os deficientes enfrentam. 

Depoimentos

Angélica Almeida

Coordenadora Pedagógica

Eu já conhecia o projeto, porque na coordenadoria em que eu trabalho, é onde cadastram os projetos de extensão, mas eu ainda não havia  tido a oportunidade de vivenciar o que o projeto proporciona. A princípio deu um "medinho", porque eu vendei os olhos, estava de salto, e é uma situação em que você não está acostumado. Porém,  na medida em que eu fui tendo contato com as plantas, que fui sentindo, fui percebendo e tentando me colocar no lugar das pessoas de que de fato não tem a visão, fui tentando imaginar como elas sentem o mundo. Fui vendo ali como é difícil pra pessoa que hoje não tem a sua visão ter contato com as coisas e como é importante ao menos tempo ela ter momento como esse. Eu acho que o projeto realmente cumpre o papel da extensão, que é promover o impacto de transformação social. Aqui não deixa a desejar em nenhum momento com relação a isso, porque é ,de fato, um grande impacto na vida da sociedade, tanto das pessoas que têm deficiência visual como das que não tem.

Confira mais

"Eu acredito que ainda não tá 100%, mas é uma estrutura que vai ta aí nos 80%"

José França

Estudante da  UFCA

Já estou convivendo com essa deficiência há 21 anos e na minha escola, em que eu comecei estudar, não tinha acessibilidade.

José Silva de França, de 53 anos, conhecido com seu José, é natural da cidade de Exu, pernambuco e no início de 2019 ingressou no curso de jornalismo da Universidade Federal do Cariri, em Juazeiro do Norte.

#PraCegoVer Na foto acima, o aluno José França, cadeirante, Na lateral da cantina da Universidade. Ao fundo, mesas, bicicleta, e um jardim paisagístico.

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Ele conta que não nasceu com deficiência, sua condição física se deu em decorrência de um acidente de trabalho, há 21 anos. Mesmo assim, seu José relata que não estudou no período da infância, aprendeu a ler aos 17 anos e, em 2015, começou a pensar em ingressar no nível superior. Ele conta que em uma das primeiras instituições que estudou, após o acidente, não possuía acessibilidade alguma, “quando eu cheguei eu falei com o pessoal da escola e a direção acabou fazendo as rampas necessárias para eu usar lá na escola”. 

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Sobre a acessibilidade no Ensino Superior, ele comenta que ainda enfrenta algumas dificuldades por não ter os braços completos, mas com  a ajuda do pessoal ele está se adaptando e tem uma perspectiva otimista: “ eu acredito que a estrutura ainda não está 100%, mas é uma estrutura que vai estar aí nos 80%”.

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José possui uma campanha nas redes sociais com a finalidade de arrecadar fundos para aquisição de um notebook, para auxiliar na demanda de trabalhos da faculdade. Ele ainda faz parte de uma minoria de deficientes a ter acesso ao ensino acadêmico.

Grafico

Em 2016, a Universidade Regional do Cariri (URCA) inaugurou o Núcleo de Acessibilidade com proposta inclusiva, considerando o significativo número de alunos deficientes físicos, visuais e auditivos. Em 2015 havia 27 alunos deficientes matriculados. Desde então, pôde-se observar uma ascensão no que se refere ao número de alunos com deficiência na universidade, uma média de 100 por período letivo.

#PraCegoVer. Acima, gráfico mostrando a quantidade de alunos matriculados na Universidade Regional do Cariri nos anos de 2016, 2017, e 2018. 

Entrevistamos a professora doutora Marla Vieira Moreira de Oliveira, pesquisadora sobre inclusão há aproximadamente 20 anos. Em sua tese, ela tratou sobre acessibilidade e Ensino Superior, voltando-se para a deficiência visual na URCA. Atualmente, Marla chefia o Departamento de Educação da instituição e coordena o Núcleo de Acessibilidade desde 2018. Ela falou sobre as políticas de acessibilidade adotadas pelas Instituições de Ensino Superior públicas do Cariri, bem como os caminhos para a educação inclusiva nas universidades públicas.

 

Segundo Marla, “O Núcleo de Acessibilidade da URCA-Nuarc atua como órgão de referência para a acessibilidade no ingresso e permanência do(a) aluno(a) público-alvo da educação especial: alunos(as) com deficiência, Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD), altas habilidades/superdotação.” 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Nos últimos anos muitas instituições têm realizado debates e seminários entre alunos e discente a fim de discutir políticas de acessibilidade. “Hoje observo que damos os primeiros passos. A garantia das vagas prevista pela legislação pode agregar para o aumento da procura e o acesso ao ensino superior”, explica Marla Moreira. Inclusive, essa afirmação pode ser constatada nos números mostrados no gráfico acima, que indica o aumento da procura por cursos da URCA por parte dos alunos com deficiência.

Quando perguntada sobre os caminhos para a educação inclusiva nas universidades públicas do Cariri, ela disse que é preciso aprofundar ainda mais nas questões que circundam a inclusão.

“A promoção da acessibilidade é fundamental nesse processo. Romper barreiras arquitetônicas, pedagógicas, sobretudo, as atitudinais. Apesar da temática sobre inclusão estar presente no âmbito acadêmico, temos muito a aprender. Esse acesso ao conhecimento passa pelas formações, mas também pela escuta sensível acerca das necessidades dos estudantes com deficiência”, conclui.

Através de projetos nos âmbitos do ensino, pesquisa e extensão, o Núcleo foi sendo construído junto aos alunos com deficiência da Universidade, promovendo ações de acompanhamento nos processos seletivos e de permanência dos estudantes na universidade. “Ainda é uma tarefa em construção e precisamos desenvolver mais ações, sobretudo, pedagógicas para gerar experiências verdadeiramente inclusivas”, diz Marla.

A promoção da acessibilidade é fundamental nesse processo. Romper barreiras arquitetônicas, pedagógicas, sobretudo, as atitudinais.

Entreista Libras
Libras: mãos que comunicam

Ao implantar o curso de Licenciatura em Letras Libras, a UFCA torna-se a primeira instituição do Cariri a trazer uma formação acadêmica na área. Mardônio Oliveira é  professor, líder da comunidade surda, e um dos idealizadores na implantação do  curso. Ele nos conta sobre suas experiências e desafios no processo de inclusão enquanto surdo, confira:

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